Nosso amigo Leandro Jonattan, além de ser o administrador do grupo Poliamor e Diversidade, de onde surgiu este site, faz parte de um dos poucos trisais legalmente constituídas no Brasil.
Recentemente, ele foi entrevistado pelo jornal O Dia, onde ele e suas duas parceiras, Thais Oliveira e Yasmin Nepomuceno, expressaram sua opinião sobre a abordagem da mídia ao poliamor.
Transcrevemos o texto completo publicado no jornal. Todos os direitos pertencem a O Dia e ao jornalista Gabriel Soreira
A entrevista
Rio – Um é pouco, dois é bom, três é… “equilíbrio”, “é melhor ainda”. Quem garante são o psicólogo Leandro Jonattan, de 36 anos, e a trancista Larissa Azevedo, de 24. Tanto ele quanto ela vivem um relacionamento poliafetivo, ou também chamado de “trisal”, casal formado por três pessoas. O tema é destaque no capítulo de hoje da novela ‘O Sétimo Guardião’, da Globo.
Na tramas das 21h, Sampaio (Marcello Novaes), Laura (Yanna Lavigne) e Louise (Fernanda de Freitas) estão na cama, quando ele sai às pressas. Louise reclama fazendo beicinho, mas, sozinhas, as duas ficam bem à vontade. “Tem horas que homem não faz a menor falta”, diz Laura.
Para o psicólogo Leandro Jonattan, que há seis anos mantém um relacionamento poliafetivo com as técnicas de enfermagem Yasmin Nepomuceno e Thais Oliveira, ambas de 24 anos, a sequência na TV está mais para um avanço. “Tanto a sexualidade humana quanto relacionamentos poliafetivos ainda são um tabu em nossa sociedade e ambos devem ser discutidos abertamente, inclusive com aulas de educação sexual nas escolas”, defende.
Já a trancista Larissa Azevedo, de 24 anos, que também vive um relacionamento poliamoroso com a dreadmaker Carolina Soares, 24, e Juliana Mattos, 26, que trabalha na área de reposição e financeira, diz que o fato de a novela retratar um homem e duas mulheres fica bem estereotipado.
“Tende mais a fetichizar do que realmente mostrar novas práticas de relacionamento. Aquele clichê de homens que sempre fantasiam duas mulheres na cama”, avalia. “Gostaríamos que fossem abordadas outras formas, como é o nosso caso (três meninas), ou dois meninos e uma menina, três meninos, quatro pessoas. Mostrar a pluralidade das relações poliafetivas”, cobra a dreadmaker.
Há oito anos, Leandro e Thais foram apresentados um ao outro por amigos em comum. Depois, conheceram Yasmin quando trabalharam na mesma empresa. “Faremos seis anos os três juntos. Foi a primeira união estável poliafetiva entre duas mulheres e um homem no Rio de Janeiro. Fomos a terceira do Brasil”, ressalta ele, com orgulho. O “trisal” tem duas filhas: Emilly, de 6 anos, e Isabella, de 1 ano. “Nossas filhas são bem criadas, bem educadas, inteligentes, e são um exemplo de que o que importa é o carinho e o amor na criação de crianças e não o tipo de relacionamento”, derrete-se.
No caso de Larissa, ela tinha uma relação aberta com a namorada, Carolina, que conheceu Juliana, e foi só questão de tempo para as três perceberem que tinham tudo a ver. “Com a Carolina vai fazer três anos, mas com as três, nove meses”, entrega Larissa, que não vacila quando se fala em um futuro herdeiro. “Conversamos muito sobre isso, e é numa possibilidade”, diz, animada.
GRANDE FAMÍLIA
Os “trisais” contam que a convivência é exatamente como a de qualquer relacionamento. Eles têm rotinas, vão ao cinema, viajam, veem séries e filmes, vão a shows. “Temos nossos acordos, assim como todo relacionamento saudável deve ter. Ninguém manda mais do que o outro, vivemos em sistema de colaboração, em que um sempre ajuda o outro quando é preciso”, resume. No quesito família e amigos, Leandro diz que todos sabem da história deles. “No início, tivemos alguns problemas de aceitação, mas hoje em dia vivemos em harmonia e estamos sempre juntos em momentos festivos. Viramos uma grande família. Afinal, o amor sempre ganha do ódio”, explica.
Larissa diz que a família dela tem a mente aberta e que, desde o início, adorou a ideia, sendo sempre receptivos desde o primeiro contato com Juliana. “A parte materna da família de Carolina, mesmo sendo conservadora, até que aceitou bem a ideia, a mãe dela nos trata como se fôssemos filhas. A Juliana não tem muito contato com a família atualmente, só com a mãe dela, que é evangélica e não aceita uma filha lésbica. Imagina com duas namoradas…”, lamenta.
CURIOSIDADES
Leandro conta que as perguntas que ele e as companheiras mais ouvem são se os três dormem na mesma cama e como fica quando as duas estão na TPM. “Sim (dormimos na mesma cama), o relacionamento é entre os três. Elas são esposas uma da outra também. Eu digo (sobre a TPM), elas não têm variação de humor, pois estão mal-humoradas todos os dias (risos). Brincadeira, digo que procuramos resolver nossas diferenças da melhor forma”, esclarece o psicólogo.
Já Larissa conta que as vantagens do relacionamento poliamoroso são muitas. A divisão de tarefas dentro de casa — as três moram juntas em Jacutinga, em Mesquita (RJ) — não pesa para ninguém. Elas conseguem organizar tudo bem mais rápido. “Temos mais amor, cuidado e afeto, sem falar na conchinha tripla (risos). Até quando rola algum desentendimento, conseguimos resolver porque tem sempre uma de nós mediando as conversas”, afirma a trancista.
E quais as desvantagens de ser um “trisal”? “Uma TPM tripla. Ah, e na hora de pedirmos algum lanche rola uma desavença porque Juliana só quer pizza. Enquanto eu e Carolina queremos sempre algo diferente”, confidencia Larissa, aos risos. Leandro também sabe de cor quando o tempo fecha. “Opinião em um relacionamento a três é mais complexo do que em um relacionamento a dois. Às vezes, a Thais quer viajar para praia e a Yasmin, para serra. Então, fico no meio disso”, diverte-se.
Questionados sobre quais conselhos dariam para quem pensa em entrar em um relacionamento poliafetivo ou pensa em conversar sobre isso com o(a) parceiro(a), tanto Leandro quanto Larissa são bem diretos. Ele diz que relacionamento poliafetivo é maravilhoso, mas não é para todos. “Cada um que seja feliz da forma que escolher. O importante é valorizar seu parceiro e entender que está diante de outro ser humano e não de algo que pertence a você”, reforça o psicólogo.
“O conselho mais cabível para essa situação é diálogo. Muitos que nos conhecem dizem que também sentem vontade, mas não sabem como chegar no parceiro ou parceira para falar sobre o assunto. A melhor forma é conversar sobre e entrar em comum acordo, que seja bom para ambos”, acrescenta Larissa.
Segundo Leandro, a discussão sobre uniões poliafetivas ainda é relativamente recente. “Esse é um fato social que deve ser debatido e não escondido”, frisam.
O psicólogo explica que o avanço das uniões poliafetivas é inegável. Não apenas na mídia. “Inclusive com a celebração de uniões poliafetivas realizadas em cartório, como a nossa, em 2016. Mas tem muita luta pela frente, inclusive atualmente novas uniões poliafetivas estão proibidas de serem lavradas por cartório após decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2018”, explica ele, que administra a página Poliamor e Diversidade, no Facebook, com mais de 26 mil membros. “Estamos na luta para garantir que outros também tenham o direito que tivemos”, salienta Jonattan.